Neste quarto Domingo do Advento, podemos perceber que Deus quer caminhar conosco, e não ficar trancado no templo; como mencionei nas outras quatro semanas, o advento é considerado um tempo litúrgico forte, e esta semana é caracterizado pela presença atuante de Maria que responde SIM a proposta do pai revelando assim o mistério da Encarnação de Jesus, pela força do Espírito Santo.
Temos aqui toda a comunidade divina que se revela aos povos de todas as raças e nações. E o lugar dessa revelação encontra espaço em Maria de Nazaré. Os textos litúrgicos do Advento exprimem uma aguda tensão entre a espera da manifestação gloriosa do Senhor no fim dos tempos e a alegria de sua vinda em nossa condição humana.
O evangelista Lucas recolheu o acontecimento da anunciação, que com grande clareza, em uma perspectiva retrospectiva, apontando dados que nos ajudam a compreender um pouco deste mistério, ele iniciará seus escritos com o anúncio do nascimento de João a Zacarias e do nascimento de Jesus a Maria. Assim, vemos o que foi tão citado no III domingo do advento mostrando que João Batista e Jesus estão profundamente ligados no projeto de Deus.
Neste período temos um tripé figurativo que representa este tempo litúrgico, o primeiro é a figura do profeta Isaías, que com seu anúncio de esperança perene alimenta a nossa espera ardente, vivida com impaciência, A segunda figura é a do Batista, o último dos profetas até Jesus, que nos coloca o verdadeiro espírito do Advento e nos exorta á vigilância e á perseverança e a terceira figura é de quem estamos falando hoje: “Maria”.
Sem sombra de dúvida imaginamos que como toda e qualquer mulher, Maria tivesse outros planos em mente. Mas o Senhor chegou e Ela, atenta a seu chamado, obedece.
Em Maria, escolhida por Deus, encontramos a plenitude da dignidade, na humildade, na simplicidade, no serviço e no amor. Maria ouve a saudação do anjo: “Alegra-te, cheia de graça! O Senhor está contigo”. A graça consiste nos dons de Deus.
Com isso o espírito do advento, ao unir a esperança Messiânica e a vinda gloriosa de Cristo com a presença de Maria, impede qualquer tendência de separar o culto á Virgem do seu ponto Central, que é Cristo. Ela é, portanto, a primeira pessoa a ser posta em causa na revelação de Deus em seu filho Jesus. Criando assim, espaço para aproximar Deus da criatura humana e de toda a terra com sua rica criação.
A concepção virginal de Jesus deve ser entendida como obra do poder de Deus “porque para Deus nenhuma coisa é impossível” (Lc 1, 37). Foge a toda compreensão e poder humanos. Não tem relação alguma com as representações mitológicas pagãs em que um deus se une a uma mulher realizando o papel do homem. A concepção virginal de Jesus é uma obra divina no seio de Maria similar à criação.
A virgindade da Mãe do Salvador é sinal de sua fé sem vacilações e de sua entrega plena à vontade de Deus. Inclusive, diz-se que, por essa fé, Maria concebe a Cristo antes em sua mente que em seu ventre, e que “é mais bem-aventurada ao receber Cristo pela fé, que ao conceber em seu seio a carne de Cristo” (Santo Agostinho). Sendo virgem e mãe, Maria é também figura da Igreja e sua mais perfeita realização.
Nas vésperas do Natal voltamos o nosso olhar para Maria, pois que é ela o primeiro e mais completo Natal jamais vivido pela humanidade. É preciso que se faça uma visita um pouco além do que a “varanda” deste mistério para entender um pouco mais desse Maria como Natal.
Ser a mãe de Deus, sem dúvidas que muito mais do que privilégio é resposta amorosa do Pai à abertura plena e aceitação da sua filha para assumir esta missão tão sublime e ao mesmo tempo complexa. “Eis aqui a escrava do Senhor, faça-se em mim segundo a sua palavra”. Deus vem porque há Maria e ela lhe dá o seu sim.
Nesse tempo de prontidão para receber entre nós o Menino Jesus, façamos uma reflexão de quanto estamos abertos para acolher, da mesma forma que a Mãe, nos nossos braços o Deus Menino que nos chega como presente absoluto do Amor da Trindade Santa.
Que não nos dispersemos nesse clima tão inebriado pela festa comercial e mundana em que se foi transformando o Nascimento de Jesus. Há que se celebrar muito mais do que isto que vivemos à nossa volta. A festa é de encontro, mas é preciso que se esteja atento para aquele que o promove.
RodolphoRaphael
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